HOJE É UM DIA PERFEITO COM AS CRIANÇAS E SÓ - GERAÇÃO 90 - AOS NOSSOS FILHOS - PARA ELES SABEREM QUEM NÓS SOMOS.

Haviam quatro garotos sentados em uma mesa de cimentos que circundava uma arvore do pátio interno próximo de suas salas, eles conversavam sobre sexo e fé. Sabiam demasiado de suas vontades e limites, havia um conhecimento limitado e cego de paixão pelo manifesto de 21 de fevereiro de 1848, e por Carlos Drummond de Andrade. Isso já lhes bastava para diferir da total inaptidão de sua pátria para com os jovens protagonistas do centro da cólera urbana.


Naquele tempo já se usava tênis vermelho e camisa preta, porém os cabelos eram longos e anacrônicos, mas pouco importava o Démodé! Interessante mesmo era que a estética, pelo menos ela, aparentasse os anos 60. E eu conheço muito bem o que é está fora dos padrões e de todos os perfis que o governo, a família, e a religião quiseram nos impor.  Divergi de todos. E apesar de ser o mais jovem da turma, talvez eu seja o mais protagonista, pelo menos era nesse momento que hoje é pretérito perfeito.



Eu bradava com a sede de um Saara que o plural de fé só poderia ser fezes, enquanto o meu mais próximo e intimo oposto ecumenicamente consultava o zodíaco.  O terceiro de óculos fundo de garrafa e já com uma barba cheia, intervinha em nome da ordem por instantes alterada, enquanto o quarto, figura espiritual, se fazia presente sem nem condição de interferir em nada. Havia morrido assassinado em 1995, e era entre nós o que mais entendia de tudo naquele momento, mas existe uma distancia enorme entre o mundo dos vivos e o dos mortos, por isso ele só observava cansado enquanto fazia uma prece por nós.



Estamos em 1996, e eu já havia bebido da saliva da menina que seria o meu eterno amor no ultimo gole de guaraná de um copo de vidro americano. Não se poderia ali enxergar um palmo se quer a nossa frente naquele ambiente hostil de sol, poeira, fé, violência e náuseas. Só nos restava nós mesmos, em si, fazendo do narcisismo uma experiência real da vida.


“Se sou eu ainda jovem/ Passando por cima de tudo. Se hoje canto essa canção/ O que cantarei depois? Ira – dias de luta; Autor: Edgar Scandurra”.  Estávamos vivendo o mais próximo que já podemos viver do neoliberalismo e mesmo com a maior das necessidades nós não conseguíamos emprego. O meu amor havia perdido boa parte da infância trabalhando para ajudar a família e nem por isso perdera a ternura. Havia três figuras femininas de maior ênfase nas nossas vidas, e tudo que eu sonhava dizer para a minha era: - Hey mãe! Já tenho uma guitarra elétrica... Mas diferente dos gaúchos eu sei exatamente o que eu quero fazer viu.



O tempo passou e por mais de mil vezes o destino nos atropelou. Enquanto todos diziam não, agente persistiu no sim, kamikazes como somos não aceitamos você não pode, ou o não vai dá certo como conselho. Hoje somos homens emancipados, o Francisco (Thesco) tem 38 anos e o Cícero e eu 36. Formamos uma prole de cinco crianças, sendo duas filhas do Thesco, Brenda Judith e Cecília, um casal do Cícero, Caroline Luciana e Andrei Emanuel, e a minha Sofia Maria (So Soul). Estamos no lucro, pois um idiota tirou a vida do Novinho por nada quando ele tinha apenas 18 anos, e Jesus foi à cruz aos 33. Enguanto agente ainda tá por aqui nadando contra as correntes. Sei que algumas pessoas esperam respostas, sucesso, dinheiro, músicas novas, fama, e tudo mais o que agente não tem, mas acredito que antes de esperarem isso da gente podiam pelo menos perguntar se é isso mesmo que agente quer (?!). Ao meu redor o mundo das coisas também incomoda, mas continuo narciso olhando para minha realidade e seguindo em frente. Não Somos Filhos Da Revolução, Não Somos Burgueses e Temos Religião, Nós Somos a Verdadeira Identidade Da Nação... Geração 90.




GEORGIANO DE CASTRO.

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