Sobre estilo e conjuntura (Rock in Roll)


"Quem tem pressa não se interessa com questões de estilo..." nada melhor do que recomeçar já citando frase de outro alguém, no caso Humberto Gessinger, o dândi revoltado de outrora. No que diz ao caráter de urgência da frase, para mim faz todo sentido agora e vou explicar o porquê?

Eu não sou professor de profissão, nem minha formação me levaria a isso, das diversas facetas onde trabalho é o Rock a minha atividade oficial. São 26 anos de dedicação a atividades undergrounds pela caraterística "Do It Yourself" de escola. Ser punk aonde estava quando comecei era mais que uma necessidade, era o único caminho. Some se a isso que à época havia sim um mercado, tanto no underground quanto no mainstream para o rock, e apesar de politizadas, as músicas das bandas não eram propriamente gritos de ordem de agremiação nenhuma, nem tão poucos os roqueiros eram fisiologistas de partido ou ativistas diretamente ligados a tais movimentos de produção com viés ideológicos e de rasa atitude utilitarista. porém de lá para cá muita coisa mudou, a evolução tecnológica fez uma total mudança nos processos, a industria convencional de discos faliu, o estado passou a financiar diretamente o show bussiners e nosso estilo perdeu espaço no mainstream. Fomos substituídos por aberrações musicais, segmentados e envoltos a um ambiente que nos transformou em meros cagadores de regras gerais, lugar antes dedicado a MPB, a maior cagadora de regra na hist´ria da musica brasileira em todos os tempos. Com isso perdendo espaço e sem condições de criar mercados sustentáveis para distribuição de músicas, shows e produtos diversos da cadeia produtiva do estilo, viramos reféns ora de movimentos que nada tem haver com a questão principal da nossa arte, e também de produtores nefastos com contatos tantos em meio ao processo de politicagem de se conseguir espaço nos centros culturais de fomentação da arte. O roqueiro de verdade é por natureza de escolha uma especie de anarquista, a quem certas bandeiras e posicionamentos, aonde não cabe criticas por exemplo, não criam ambientes saudáveis. E fomos cada vez mais jogados aos guetos, reproduzindo o discurso desse sistema nos dois lados de sua frente, ou seja, quando nos tornamos meros reprodutores de um discurso utilitarista carregado para ocupar espaços dominados por movimentos que se dizem politizados e assumem o controle dos canais necessários na demanda conjuntural da cadeia produtiva das artes, ou quando nos isolamos e através de tentativas criativas investimos na segmentação do estilo assumindo um único discurso e sonoridade nos nossos trabalhos. 


Não vou ficar aqui reproduzindo toda filha da putagem existente nos canais oficiais de uma industria cultural pois como eu já disse, eu sou fruto do underground. A quem me conhece percebe uma total inadequação ao modelo Boy band, ou mesmo pop no nível inventado do mercado. E essa inequação também encontra enfrentamento em permanecer no gueto das ideias e na pre definição de estilo na nova cultura segmentada do rock. penso que na América latina, onde o rock existe "por assimilação" por assim dizer, é necessário quebrar a corrente da repetição e ousar misturar. É o que observo em diversas facetas do rock latino que dá certo, nos países latinos onde o rock realmente e uma referencia. Aqui mesmo no Brasil, em um passado recente tínhamos artistas no patamar de Raul Seixas, Secos e Molhados, Blitz, Gang 90... que mesmos identificados com uma época pela mídia que tem mania de enquadrar para tornar didático o lance da informação, eram artistas que tinham na pluralidade o capital mais destacado de seus trabalhos no que ficou para a história de se contar. 

Outro dia me vi numa discussão sem futuro com um menino lindo, ótima pessoa auto intitulada "Careca" ou skinhead como dizemos repetindo o termo como surgiu em sua língua oficial. A discussão era sobre o que é punk? Algo que eu sinceramente, mesmo depois de todo esse histórico de atitude e movimento, não só pela minha banda, mas pela cultura rock como um todo não sei explicar.  o que eu percebi naquele menino foi muita boa vontade em meio a um discurso anacrônico, que outrora fora meu também, perdido na atitude de caga regras geral. Esse personagem para mim é fruto da nossa decadência educacional e cultural, e olha que nós lutamos tanto como Dom Quixotes, às vezes pagando de Freud Flinstones, para usar outro termo do Humberto, mas nosso alcance é minimo diante do poder avassalador da mediocracia, midiocracia, e do discurso utilitarista politico geral. Estamos reféns de toda essa horda e a juventude, a quem o rock sempre manteve o espirito vivo. No nosso país escuta Sertanejo, sofrências, beats amorais e por aí vai. Nesse caso vale ressaltar que nesses estilos também o que se escuta não tem nada a ver com as raízes, origens e com o modo de bom gosto ao fazer, tudo está inserido no mercado do imediato, do mal gosto, da satisfação do básico instinto grotesco. Essa é a nossa situação. 



Para mim, ou para nós da banda a que pertenço hoje e é o meu projeto de vida (The Good Garden) o mais foda é o dedo em riste! Por um lado parece que é proibido pensar com a própria cabeça, (e olha que cabeça é pronome de tratamento entre a gente) por outro não há possibilidade de encaixe por todas as razões possíveis, principalmente a econômica. Uns almejam que você seja um mero Reprodutor de discurso raso, outros te olham com a visão dos mais esdrúxulos pré conceitos. Resistir a esse ambiente é uma tarefa dificílima, é uma tortura diária, frequente e cansativa. não fosse o nosso amor pelo o que somos e fazemos talvez nossa estória fosse outra. Para ser uma banda não infiltrada em esquemas, como a grande maioria de nós roqueiros é, muitas vezes, como no nosso caso, o rock é uma espécie de segunda atividade, e por mais que seja remunerada, ela não alcança a equabilidade da satisfação de nossas necessidades sociais. Isso quer dizer, temos uma jornada dupla de trabalho, no meu caso, nosso caso, mal remunerada das duas ou três, ou quatro frentes. E eu não tenho medo de afirmar categoricamente que nosso trabalho tem mais postura e qualidade do que o trabalho de muito milionário aí do showbizz.  Ou seja, esse invertimento na chegada do produto final ao público consumidor nos prejudica a todos. Então vamos por o pé na porta, vamos deixar de ser gado, reprodutores de discursos de quem não nos tem atenção e parar também de ser gueto, segmento, vamos nos permitir como diz o Lulu e o Nelson Mota. Vamos por o nosso rock nas cabeças e com respeito a tudo que vier de bom dos outros estilos. É por aí que vamos caminhando, venha conosco! 















Imagens Banda The Good Garden. Valeu a todos....

                                                  Georgiano de Castro Ferreira Balisa.

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