A REPUBLIQUETA DO PARADOXO CONSTANTE.

Nesse carnaval estive em ibiapina interior do Ceará, na serra grande região noroeste do estado. Eu nasci em Fortaleza, e por quase toda a minha vida morrei na região sudoeste da capital, onde somos periferia e temos muito contato com a cultura interiorana através de nossos parentes e amigos, muitos advindos do interior do estado em uma das diversas migrações do nosso êxodo rural constante. Um exemplo claro para mim disso é a minha própria mãe que migrou de Piquet Carneiro para à Maraponga nos anos 60. Esse entendimento da cultura do interior me surge como um paradoxo, pois no Brasil a metrópole, apesar de sua economia e importância, não passa de mera exceção. Somos um país interior, sertão, serra, e latifúndio, não há como negar essa realidade nessa atmosfera geográfica de nação continental.


Ibiapina é uma cidade agradável de gente educada e muito bela. Falo tanto da beleza da primeira vista, que é uma beleza física, como também do seu mais cabível complemento, que é a elegância da educação. Uma educação de modos se é que vocês me entendem? Mas infelizmente meu critico olhar detectou na cidade algo de constante no interior da nossa querida republiqueta do paradoxo chamada de Brasil. E era carnaval, época perfeita para se perceber isso. Falo da parte circo do nosso querido “Panis ET circenses” que é promovido na festa popular pela maquina do estado, no caso de Ibiapina pela prefeitura. Foram 04 noites de um frenético carnaval com 03 bandas por noite, concentradas em umas das praças da cidade indo das 21hrs até as 05h00min da manhã do dia seguinte.  E o paradoxo se revela diante dos meus olhos...


“Oh mundo tão desigual, tudo é tão desigual, de um lado esse carnaval do outro a fome total” (Gilberto Gil). É só se afastar um pouco do centro da cidade pelo lado esquerdo, tipo como quem volta para a capital que encontramos o bairro das Pedrinhas, berço do descaso local e que vive hoje em um inicio de ambiente de violência que lembra muito Fortaleza, principalmente o Bom Jardim do final dos anos 80. Há uma proliferação de maconha, droga habitual da região, e muitos adolescentes portando e fazendo uso da erva. É muito engraçado analisar a republiqueta do paradoxo, pois para mim esse é um dado extremamente positivo. Senão vejamos, esses dados nos mostram que o crack, que é muito mais avassalador, ainda não chegou ou se instalou na região. E isso significa do ponto de vista econômico, se é que alguém tá preocupado em combater epidemia, que as políticas públicas para o combate dessa realidade irão gastar muito menos e também que a violência gerada pelo o uso de crack, que é bem mais intensa ainda poderia ser evitada com cuidados antecipados.


Notei também que o comando de policia local só voltava os olhos para as Pedrinhas, ou seja, todas as ações eram concentradas em cima dos moradores desse bairro que fica bem do lado do centro. Isso é comum na republiqueta do paradoxo, o estado concentra repressão em cima de quem menos recebe os benefícios que são de obrigação legitima do estado. Se Faltar  ação social no bairro das Pedrinhas não vai faltar a policia militar para reprimir com força e estupidez o resultado direto desse abandono. E seria bom se isso fosse verdade, mas o paradoxo outra vez me obriga a demonstrar que a coisa é bem pior, e que o pior paradoxalmente, consegue evitar que o mais pior, em nível de burrice declarada aconteça nas Pedrinhas. O destacamento de policia de Ibiapina tem em seu efetivo 08 homens revessando escalas de até 72hrs de trabalho direto. Onde apenas 04 ou 03 homens ficam de plantão enquanto os outros folgam. Sem armamentos ou treinamento adequados, faltam coletes e munições, e a viatura velha é filha única e mecanicamente impossível de atender as necessidades do município. Porém o pior não é isso, é muito pior notar que os policiais lotados naquele destacamento têm a cabeça ainda nos anos 70, onde a ditadura dava as cartas da estupidez incoerente em nível de segurança pública. O que implica dizer que aquela repressão anacrônica até poderia existir na cidade se houvesse ao menos condições humanas de trabalho, e o paradoxo só aumenta.


Agora voltemos ao carnaval. O circo montado na praça tinha muita qualidade de equipamentos, realmente aquela velha dificuldade de equipamentos de som para eventos no Brasil não existe mais, porém os técnicos ainda são uma necessidade constante nessas regiões interioranas. Mas devo admitir que para mim ficasse bem mais fácil perceber esse detalhe, e muito mais difícil para um leigo, e que isso fica até diminuído diante da merda toda que vem pela frente. Como já falei eram 03 bandas por noite, mas acontece que realmente só precisava de uma para legitimar o apogeu da música feita para adestrar macacos. A primeira banda subia e tocava um repertório que era repetido pelas outras duas até em ordem sequencial de disposição das musicas no mesmo repertório. Isso tautofonicamente causa uma pertupação mental que gruda aqueles refrões repetidos até na cabeça de quem os detesta como eu. É uma música que num diz nada, a não ser o lepo, lepo, o grande hino das esquerdas nesse carnaval, que tem sim uma parte que fala da condição econômica da maioria das suas marionetes na dancinha, que termina em mais uma apelação sexual interessante, pelo menos eu acho interessante e não nego. Na praça da cidade, onde rolavam os shows, podíamos perceber a estupidez paradoxal da nossa cultura unindo a playboyzada e os marginais num êxtase de hipnose dançante comandada pelo clooner da banda. Os plays de camisas e acassalhos La coste, em mesas cercadas das mais piranhas patricinhas, com um uísque a mostra na mesa e uma dose eternamente estática no copo. Já que o chamativo não é beber aquele troço horrível, mas sim que os outros te vejam bebendo. E a prefeitura tinha baixado um decreto que proibia o porte de vasilhames de vidro no perímetro da festa, e muito organizadamente dispôs de garrafas peti para fazer a permuta do liquidozinho que determina a pose da incoerência boçal dos plays. Mas essa norma só se aplicava a quem demonstrava ser do outro lado, o lado marginal, apenas nós da capital discutíamos aquilo com os plays intocáveis da cidade. Do outro lado da praça, em maioria absoluta, estão os cidadões marginais. Que cumpriam a risca as determinações e dançavam num êxtase de alegria, comemorando ao ritmo da burrice poética e tautofonicamente imposta, a sua condição de marginais cidadões. Afinal já houve até escravidão nessas paragens né? E eu ainda percebi outras coisas extremamente positivas na cidade das moças mais bonitas e bem vestidas da serra. Havia muitos cassacos do Sport Clube Corinthians Paulista, uma das minhas paixões, e muito moicano com camisetas de bandas de rock nacional e gringas.




No interior notamos que os administradores públicos são tratados como reis, a monarquia ainda tem vestígios muito fortes por ali. E a força do Partido Republicano da Ordem Social, o Pros é imensa. A prefeita tem laços fortíssimos com o governador Cid Gomes, e a Constituição Federal anda é longe de dá as caras por lá. Quem me diria isso, na minha condição de militar, que levei duas ameaças de prisão por querer expô - La em detalhes aos leigos da nova ditadura Brasileira. Que é a ditadura da imposição do querer do estado sobre a inocência dos seus contribuintes. A delegacia regional é em Tianguá, e duvido muito das intenções de um delegado desses de ir contra o poder das majestades, e o IML, que é em Sobral, funciona ao Deus dará que nem no samba do Chico Buarque (Partido Alto). Esse é o reflexo da grande maioria do território Brasileiro, formado por gente bonita e abandonada, que trabalha e tenta ser feliz vivendo sobre a imposição cruel do paradoxo. Uma realidade virtual que no carnaval da pobre poética, da sexualidade em transe, da ignorância presumida e da obsolescência constitucional... Ficam desnudos para os olhares mais críticos de turistas como eu. Que voltei para Fortaleza (a eterna terra do nunca) na quarta feira de cinzas odiando as oligarquias regionais e amando o povo de Ibiapina.


Gostaria de ressaltar que o Blog do cabeça é uma pagina de opinião e que o fato de eu demonstrar Ibiapina com um olhar critico não diminui a beleza das pessoas nem do lugar. Esse é um município belíssimo e se alguém tiver a intenção de corrigir os apontamentos declarados aqui pela minha pagina ficaria bem melhor.

Esse sou eu no restaurante Altas Horas em Ibiapina Ce. Local que eu muito sinceramente recomendo. 

obrigado até a próxima. 

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