Do engarrafamento vejo o mundo
Toda vez que chove Fortaleza se transforma em um caos sem limites. A cidade que é apontada como a capital do sol, em anúncios de apelo turísticos, não está preparada para uma noite inteira de chuva. Pelo que pesquisei foram 169.0 mililitros da noite do dia 30 para a manhã do dia 31, aliás, o ultimo dia do mês de março.
A cidade cresce desordenadamente, cheia de mazelas e ilusões plantadas, será uma das capitais da copa do mundo de Futebol, um evento internacional, mas também é apontada como a segunda capital mais violenta do país, sendo a sétima numa escala mundial, 712 homicídios só nos dois primeiros messes de 2014, e com oito assaltos registrados por hora. Tudo no mais perfeito caos, e nós ainda mantemos a pose hipócrita de pacatos cidadãos, morando no país mais violento do mundo e vivendo em total abandono, castigados por uma epidemia de crack e fisiologismo politico, hasteando uma bandeira anacrônica de classe média aparente, sob uma lógica cretina que habita no coração dos cidadãos, que querem só ganhar dinheiro para buscar um isolamento vendido como status ilusório no mercado imobiliário. E basta uma chuva, para a cólera urbana mostrar que mesmo tentando fugir da realidade, ela sempre nos alcança.
Passei quatro horas e meia para ir a Messejana do Bom Jardim e voltar, do engarrafamento eu buscava entender o mundo que criamos, tentei realizar as respostas todas que os "entendidos" no assunto dão como proposta de solução dessas nossas chagas tão expostas, e não vejo nada de futuro nas propostas de gestão, nem do povo que continua com a Dilma, nem de quem já quer expurga - la. Tudo é superficial demais, é como um espinho que dói, que incomoda, mais não é algo pior que a ferida. E ninguém se habilita a por o dedo na ferida, com isso tudo que se propõe é extrair o espinho, mas deixar a ferida ao sabor das circunstancias, e o acaso nesse caso não é nada legal e nem configura o caminho ideal a seguirmos. Quando você pensa em um prefeito, como é o caso aqui na cidade, você pensa nele como aquele gestor que vai encaminhar a solução, e que depois dele quem o suceder, vai continuar os projetos que são indispensáveis para o bem estar geral da sociedade. Mas se você imagina que o prefeito não dá conta do tamanho da desgraça instalada, então porque diabos múltiplos você vai querer a frente de suas decisões as figuras que representam os poderes do nosso estado? E cidadania pra quê se o povo não responde aos anseios que são tão seus, e que nos detonam e jogam em ambientes tão escandalosos como em um engarrafamento?
Eu tenho um carro, poderia ter dois se não tivesse perdido um em um estúpido acidente, mas eu bem que poderia deixá - lo em casa e começar a usar o transporte público se ele funcionasse. eu adoraria usar metrô ou ônibus, se um dos dois atendesse as minhas necessidades básicas de locomoção, que são exatamente trabalho e faculdade. mas nem isso, nada, o metrô de Fortaleza mais parece um atoleiro de verbas públicas, e continua tão inútel quanto era o trem cansado da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), e os ônibus, com seus terminais continuam sem vez nas marginais, entulhando o trânsito, causando engodo enquanto seus usuários sentem o calor imenso da cidade do sol. E as meninas de manhã são o alvo perfeito da crise gala seca dos bolinadores em geral, são vários estupros calados, feridas abertas, estupidez completa, e o governo preocupado com turistas e com o sucesso do carnaval e do futebol.
Um dos maiores responsáveis por esse estorvo é essa cultura de aceitação do Deus dará! O abismo só existe porque há quem lucre os rios de dinheiro com ele. Quem lembra da Av: Washington Soares a 20 anos atrás, quando só tinha o Iguatemi por lá? e veja hoje o que é o Alagadiço, as 6 Bocas, a Cidade dos Funcionários... Realmente o capital arrastou quem o tinha para aquela área nobre, e sendo nobre é claro que mais investimentos irão ancorar lá, e o desenvolvimento daquela região em 20 anos é espantoso. Agora eu pergunto, alguém percebe aquela região apartada do caos geral que alcança todo o resto? Não meu irmão, a cólera urbana sabe muito bem bater a porta dos ricos, e a favelização lá é real, e o tráfico de drogas via comunidade Por do Sol vai além dos out doors que anunciam, FISK, FA7, UNIFOR e CENTRO DE EVENTOS DO CEARÁ. E o dedo na ferida quem põe? São tantos secretários, tantos cargos comissionados, uma pá de legisladores, um estado inflamado e nada de resposta aparente. com isso eu fico só preocupado em manter o seguro do meu carro em dia, alimentando um grupo financeiro para obter a ilusão de segurança que o estado, que também me explora não me dá. E tomara que chova, mesmo caindo teto de hospital e barraco por todo os lados, não há como negar o gosto bom da sensação da chuva molhando o chão do inferno que nos tanto amamos e queremos ver de outra maneira.
Georgiano de Castro.
Tirando um ronco por que é preciso dormir também.
Eu só queria poder dormir todos os dias pelo menos 5 horas ininterruptas...
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