TEM GENTE QUE NÃO É DA GENTE...
O nome do Johnny é João, mas
ele nem se lembra disso. Johnny é a sua identidade, algo que só você mesmo pode
fazer por você. Ele tem uma magrela monark azul, mas ele sonha mesmo é com uma Yamaha
RD135, a viúva negra, tipo de moto para quem é roqueiro da periferia. E sempre
usa o mesmo modelo de camiseta preta sem manga com estampa da sua banda
preferida; o Motorhead. Aquela blusa é o seu escudo, algo que determina o seu
ser, no universo imenso que representa o seu eu, a semelhança e a identificação
com a sua banda é algo que nenhum leigo poderia entender.
Johnny vive em um país
inimaginável, onde a decadência absoluta e ausência de inteligência social
fizeram os milicos tomarem o poder por 25 anos, e depois de largarem o osso,
deixar um caos completo para um patético civil administrar. Ele, o nosso
personagem, pensa que a inflação é o pior dos impostos, pois ela cobra mais de
quem tem menos, e essa vizinhança é toda formada por quem tem menos, por quem
precisa de algo além do que o material determina para sobreviver em estado de
luta. E todos aqui sabem que ninguém vem para o rock porque é feliz com tudo,
ninguém vem porque não tem nada a contestar. O rock é uma força contestadora, é
a religião de toda essa horda de gente sem perspectivas.
20 anos se passaram, e
Johnny agora pesa uns 40 quilos a mais que antes. A Yamaha RD 135 anda longe de
ser a motoca preferida da mocidade, mas ele tem a sua e vive lambendo como quem
cuida de uma nave intergaláctica. 20 anos depois o mundo é muito diferente do
que o que conhecíamos, a economia se equilibrou quando o improvável assumiu,
mas a ilusão do improvável trouxe em seu bojo diversas revelações para afundar
a fé cega da paixão próxima de tantos outros severinos. Johnny usa sempre o
mesmo tipo de camiseta preta sem mangas com estampa da sua banda preferida; o
Motorhead. Sua fidelidade é imensa, todos nas redondezas sabem que o Johnny é um
homem leal. Hoje em dia o governo continua metendo sem cuspe no rabo do povo,
porém o povo anda cada vez mais anestesiado com tanta alienação presente. Nesses
dias inúteis de hoje o nosso Johnny é um eremita, tipo de sujeito retrógado que
vive em outro tempo, mas ele prefere ser assim mesmo.
Eu entendo Johnny, ele veio de um tempo onde tudo era mais difícil, por isso mesmo as coisas tinham mais valor. Era um tempo onde só usava uma camiseta de rock quem era iniciado no assunto. Aquilo era um manto, espécie de escudo medieval para defender seu usuário de toda babaquice, caretice e tal. Johnny hoje se sente decepcionado ao ver que tem gente que não é da gente usando nossos mantos. Na TV, nas revistas, nas fotos de divulgação em redes sociais, nos shows... Tem um monte de gente que não é da gente usando as camisetas de bandas de rock para aparentar um lance cool. Onde foi parar o respeito? Esse é um tempo de dificuldades, onde o rock não toca mais nas rádios, mas os artistas de merda, que não contestam nada e vivem de criar coreografias para adestrar os macacos sem pelos vivem vestidos com camisetas da nossa religião.
Johnny acha isso um absurdo,
e ele tem razão, todos sabem que o rock in roll é a música mais importante do
mundo! Mas nesse país complicado que Johnny habita isso é negado, em nome de um
patriotismo anacrônico e decadente que manipula os cerebelos mal nutridos de
uma massa de walking deads juvenis. É uma afronta, é o cão latindo para a roda
e a galera seguindo a moda como muito bem revelou o Marcelo Nova. Onde foram
parar todos? Não dá mais para aguentar o mainstream, e se por acaso da
coincidência o repúdio ainda repousar no underground porque ele não desperta
logo? Johnny não sabe, ele só sabe da sua verdade, ele só compreende a sua
lealdade, e tem a sincera certeza de que ele não é uma ficção.
GEORGIANO DE CASTRO NO ROCK CORDEL 2009, EU ACHO, SÓ LEMBRO QUE O CÉU ESTAVA SE DESMANCHANDO EM ÁGUA EM FORTALEZA. ESSE IMAGEM DEMONSTRA MUITO DA MINHA FIDELIDADE TAMBÉM.
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