FÁBULA!

Era uma vez uma criatura que vivia em outro mundo, um mundo passado, cheio de desencanto e sordidez. De manhã as pessoas acordavam ainda dormindo para beber uma bebida quente, como quem procura esquecer que as crianças já nascem mortas, e que o egoísmo tomava conta das pessoas que habitavam aquela nação de nome politicamente correto de arvore.


Sobre todas as forças, ao meio dia, as pessoas se entupiam de carboidratos baratos e da gordura da desgraça comum. Observavam pela janela futuro, em alta definição, a sua própria estupidez. Ninguém estava preocupado com a própria vida, todos se alimentavam da vida alheia, e mantinham posicionamentos morais que não cumpriam, mas aquilo lhes servia de embuste para satisfazer a covardia corriqueira, ordinária e traiçoeira. Característica imutável de todos os pares de iguais.

Já não havia a figura linda de um Jesus renascentista, com seus belos olhos azuis e com uma doçura encantadora no olhar. Os heróis se tornavam ladrões, e os ladrões eram protegidos pelo conjunto mais lógico das leis. As canções não diziam nada, pois já não existiam timbres e harmonias, nem frequências e poesia, tudo se resumia a apelação e ritmo para esquentar bocetas frigidas e anus valentes, tão latentes quanto decadentes. E ninguém se sentia demente! Já que lhes era permitido à graça de ser diferentes. Visto que a aceitação de que o indivíduo supera o coletivo em grau de importância era a única garantia constitucional que realmente funcionava.


Indiferente a tudo isso o formiga trabalhava para garantir o seu pão e o de sua família. Ele reconhecia o valor da sua comunidade, e sabia que sozinho não poderia vencer as dificuldades cotidianas. Ele reconhecia a existência de um poder superior, mas não reverenciava nem temia. Suas atitudes eram totalmente reprováveis, a ele cabia somente à solidão e a depressão profunda. Constante como a respiração de um anfíbio mutante.

Até que um dia ele conheceu a fada dos dentes amarelados pela nicotina e ela lhe concedeu três desejos. Era algo grande como o universo, ele realmente poderia mudar o rumo das coisas a partir daquilo. Porém, envolto de si e com hombridade de um homem formiga pediu apenas que nunca lhe faltasse fé nas suas próprias conclusões mesmo se fosse erradas, pois ele entendia o erro como algo valido ao processo de aprendizagem. Força para encarar o rumo das suas decisões, e coragem para suportar o sertão da sua solidão. A fada decadente e prostituta dos desejos não podia conceder o que já havia na gênese da formiga, e com um sorriso bobo de desespero numa nuvem de gás de flatulências sumiu no ar. A formiga não entendeu, só sabia que estava com 36 anos e que amava tudo tão intensamente que nunca iria encontrar sossego na vida.


Georgiano de Castro aos 36 anos, no primeiro dia dessa passagem.

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