Celebration Good Times Come On!
O romance Dom Quixote de La
Mancha foi escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes, ainda no século XV, sua
primeira publicação foi exatamente em 1605. É uma obra dividida em 126
capítulos, divididos em duas partes, sendo que a segunda só foi lançada em
1615. No livro o protagonista já de idade toma contato demasiado com os
romances de cavalaria e chega a tal ponto de envolvimento, que sai em aventuras
pelo universo fantasioso dos romances. Com isso a personagem faz surgir um
choque entre a fantasia heroica dos romances e a realidade inóspita. Que é onde
ele trava suas batalhas em total demência dos sentidos, sempre com a presença
inseparável de seu fiel escudeiro, o Sancho Pança, que é o contra ponto
realista no enredo da estória.
É um clássico da literatura
mundial e influenciou vários personagens e posicionamentos românticos mundo
afora. Tal qual Jean Valjean, personagem de Os Miseráveis, de Vitor Hugo, com
sua posição moral inalcançável. Muito é discutido sobre a loucura latente de
Dom Quixote, que foge a realidade do seu cotidiano para entrar em um mundo
fantasioso que já não existe mais, se é que um dia existiu. Na sua fantasia ele
vive uma vida heroica e glamourosa, cheia dos encantos e sentidos de valor que
o cotidiano não o traz. Mas será que só no universo dos sonhos podemos alcançar
esse sentimento de valorização e de agito fora do habitual?
“Uma fuga para longe
da realidade covarde do final dos anos 70, nada de engajamentos frustrantes, o
lance era festa e brilho; glamour's life. seguindo uma cartilha libertária de
tolerância e democracia comunitária, é algo que em nada se torna fácil para
compreensão ainda hoje. Gays, negros, minorias sim. Mas com pose de chics, em
saltos plataformas e calças boca de sino. é sem dúvida uma evolução da soul
music e se tornou emblemática por ser extremamente radiofônica e por
popularizar pistas de dança pelo mundo todo.” Eu mesmo escrevi esse
trecho em um post chamado D.I.S.C.O SAY DISCO, aqui mesmo nesse blog.
E esse posicionamento da maioria dos jovens da era Disco, tem muito
haver com Dom Quixote. A realidade cotidiana do final dos anos 70 era uma crise
econômica intensa. E a fuga para as discotecas, para a celebração da vida
comunitária, dando status às minorias tão perseguidas antes. Poderia muito bem
ser entendido como loucura hoje em dia nessa nossa cruel retomada da caretice
antes tão discutida por nós mesmos. Era uma fuga? Sim era! Igual à fuga
Quixoteana. Era uma busca cega de sentido? Em minha opinião era! O que é mais
importante na vida, ficar acordando e dormindo, reclamando de tudo, ou buscar a
felicidade e celebrar a vida?
Aqui em fortaleza, no final dos anos 70 e inicio dos 80, nos também
tínhamos a nossa fuga. Em épocas de ditadura e censura o conceito de maior
idade ganha uma força reguladora enorme. Isso fazia com que os jovens menores
de 18 anos, não podendo participar das festas e encontros musicais adultos,
usassem de criatividade e ironia para se divertir e enfrentar o regime. Surgem
então as Tertúlias em Fortaleza, festinhas de jovens menores de idade em suas
próprias casas, animadas por sons 3x1, e discos de vinil de discoteca e forró
eletrônico da época, e bebidas alternativas como aluás e caipirinhas. Sendo uma
alternativa criativa, com o tempo foi se vulgarizando e servindo também ao
público adulto que adotou as tertúlias como forma de diversão barata e segura,
o que de certa forma também respondia a recessão econômica que país
atravessava. Com a chegada dos anos 80, já conhecido o conceito em toda a
cidade e região metropolitana, as tertúlias acompanhavam o som da época, que ia
dos pós-punk, new wave, new romantic e rock nacional, a lambada e guitarradas
do norte. Porém na segunda metade da década o movimento fica restrito a
encontros somente entre jovens suburbanos, já que perdia espaço para as equipes
de som como: Arroz com Fumo, Alternativa e Circuito. E nos anos 90 e 2000
alcança o status de memória coletiva presente das décadas passadas. Agora me
responda então, era ou não era uma forma criativa de enfrentar o dragão que não
passava de moinho de vento?
Para mim a tertúlia era, ou é, um conceito criativo, dinâmico e
agregador. A minha identificação com Dom Quixote é tal que me permito fugir da
regra habitual para o sonho e a busca do encanto de forma intensa, por isso que
estou constantemente buscando alternativas de ser feliz com a simplicidade e
com a soma das pessoas que se interessam em mudar a realidade. Eu não preciso
que a rede globo coloque a Regina Casé em um programa dominical com uma atitude
como essa que acabo de citar para entender que agente mesmo pode criar a nossa
festa. Nem preciso que eles ditem moda sobre como agente deve se vestir ou
sobre o que agente tem que ouvir, já que eles é que não são democráticos. E já
que eu sou egocêntrico e acredito que agente sim pode brilhar quando deixamos
de seguir os outros e fazemos por nós mesmos. Esse é o principio da
criatividade! Mesmo sendo a luta insana contra o dragão da maldade.
Agora que meu amigo Fco Silva, o Tchêsco, voltou de uma temporada no
Traíri, agente vinha conversando sobre as coisas que agente fazia para driblar
a força maior de outros tempos, e chegamos à conclusão que nossas tertúlias na
Martins de carvalho 348, eram uma das mais fortes. O conceito de festa de amigos,
entre um grupo de mais ou menos 50 pessoas, é algo muito forte nas nossas
lembranças. Paulo Santos, Fco José Castro, Vânia Sousa, Jefferson, Novinho,
toda a galera. Nós éramos criativos e nem sabíamos. Com isso criei um pagina no
Facebook chamada: Clube da Tertúlia; https://www.facebook.com/bjtertulias?ref=hl
A intenção é que a gente, de uma forma bem peculiar aos tempos atuais,
feche um grupo de pessoas próximas e interessantes para de maneira esporádica
celebrar a vida em eventos que nos mesmos decidimos o que queremos fazer, como
nas tertúlias. Aí entra nossa experiência como produtores culturais, coisa que
antes não existia. Você pode começar curtindo e participando via Facebook,
depois criando fóruns entre tantas outras novas ferramentas, depois agente
fecha conceito e ações. Desse modo agente estará de forma sucinta enfrentando
dragões da maldade que não passam de moinhos de vento Dom Quixoteanamente. E
celebrando a vida como há tempos não fazemos mais por causa da boçalização da
nossa sociedade influindo diretamente em nossa comunidade. E se viver é tão
somente estar vivo, pois que seja intensamente.
Valeu Georgiano de Castro.
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