ENTRE O DESENCANTO E A INSENSATEZ EU ME ENCONTRO COM A SOLIDÃO MAIS UMA VEZ!
Ontem encontrei
uma velha conhecida de muito tempo, e como sempre nas últimas vezes que nos
encontramos, nos encaramos frente a frente. Só que dessa vez foi diferente, não
foi só olhos nos olhos com o silêncio, dessa vez eu a chamei para conversar:
- Lembra-se de como a gente conversava as tardes de sábado
sempre na trilha sonora dos lados B dos meus Long Plays?
- É, eram outros tempos, e bons assuntos.
- Concordo, o tempo voa enquanto a gente fica decidindo
entre o ataque e a defesa, é como o observador frente ao mar, deixando a onda
passar...
- Palavras bonitas nem sempre são sinceras, quase nunca
são!
- Lembro sim, a gente ouvia esse daí também.
Respondi
nostálgico, ela me olhou profundo e interpelou:
- Como vão as drogas?
- Dogmas?
- Não, drogas mesmo?
- Não existem mais, acredita? Agora tenho motivos reais
para a tristeza, não preciso de fantasia.
- Todo mundo procura uma fuga, às vezes se chora por
nada, sentindo a dor por alguém...
- Lembro-me dessa; Ele sentia por ela enquanto ela batia
na porta não era?
- era?
Dessa vez
foi ela quem me respondeu nostálgica, e eu continuei:
- Eu não sou a mesma pessoa, é outra imagem no espelho, é
uma nova fé, é um novo enredo.
- todos me falam isso, você não é especial.
- imagino... E nem
quero ser.
- Não minta! Everybody’s Wants to Rule the World! (todo
mundo quer conquistar o mundo)
- 1989, eu era apenas uma criança.
Nossos olhares
se fixaram ainda mais, ela retrucou:
- Eu espero por você todos os dias, eu sei do seu cansaço
e da sua depressão.
Interrompi
perguntando:
- Lembra-se de Tom Wolfe?
- Radical Chique, lembro-me.
- Leonard Bernstein, em seu duplex no Park Avenue
oferecendo um jantar chique para a convenção dos Black Panthes...
- Ridículo!
- Agora eu sei, eu pensei que sabia de tudo.
- Essa é de quando você nem tinha nascido menino, pare!
- Roberto Carlos! Mas, Voltando ao assunto. O elitista
que ataca a elite é uma figura tão Judas para católico manipulado, quanto é Hipócrita
o esquerdista que enriquece graças ao capitalismo.
- Rodrigo Constantino!, isso é Esquerda Caviar.
- Seria, mas o idealista que lucra com o seu ideal é o
meu objetivo!
- você pensa que mudou, continua a mesma criança.
Isso me deixou confuso, confesso, mas continuei falando:
- Essa é a liberdade possível não é a truculência
executiva de um yuppie!
- Entre Seus Rins.
- É, sugere intimidade, entre seus rins é onde eu deveria
estar!
- Se toque, meu nome é feminino, mas não sou uma mulher.
- Claro que eu sei disso, você não conforta a ninguém,
mesmo assim precisamos de você.
Sabe o que é
mudar de assunto sem sair do foco da última frase? Foi o que aconteceu quando
ela me perguntou:
- E o seu amor?
- Ainda existe, bem aqui dentro de mim. Eu fecho os olhos
e enxergo – o, longe, em paisagens não mais possíveis, ou em universos
impossíveis, skakespeareanos!
- Você devia morrer um pouco! Ficar na linha da vida,
entre um lado e outro para entender sobre o que realmente importa. Fora esse
seu egoísmo!
- Eu assisti a esse filme também!
- Dualismo válido! Linha da vida e legião.
- Acredita que eu nem reparei?
- eu sei no que você está pensando!
- Então fale.
- Você me conhece de outros carnavais, com outras
fantasias! Você também tem os seus personagens, eu sei por que eu sempre estou
contigo. Sou o seu refúgio meu amigo, às vezes eu só te observo, a tua insensatez,
a tua inexatidão, e nem sei dizer se és covarde! Tanto que interrogo- me sobre
quem sou eu para lhe cobrar uma atitude moral? Tu sabes que sou só! Por isso
mesmo sou a solidão. E se te encaro é pelo simples fato da tua insanidade, da
tua hipocondria! Tu conversas comigo porque és um louco, tu sabes que a solidão
sozinha não tem nada a te oferecer. Gostaria de lhe xingar, mas a etiqueta me
condena a pratica, isso é pra você que é humano, que pode ser ridículo, que
pode ser insano. Isso é pra você que é homem, que no fundo entende que o melhor
momento da feminilidade é ser objeto, é proporcionar gozo, e continuar carente
e servil. Você é a tradução de um fracasso, é a cara do Brasil.
Nada me
restava se não escutar calado. E o silencio foi tão duro quanto complacente,
até que ela me deu as costas e eu saí.
- Vai Solidão! Mas não se esqueça de voltar para uma taça
de gyn...
GEORGIANO DE CASTRO.
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