A MENINA BRANCA DE CABELO PRETO E TÊNIS BRANCO.
Vou
começar dizendo que era verão, pois o verão tem essa coisa mágica
nas poesias e canções, na verdade era verão mesmo pois aqui o ano
todo é verão. Todo início de ano aparece novas pessoas no grupo,
na verdade as pessoas querem se conhecer, ainda mais os jovens que
tem a vida toda pela frente mas vivem na excitação e urgência tão
delicada e própria da idade. No nosso grupo tinha um monte de gentes
novas, mas eu nunca fui muito aberto a gente novata e fiquei na
minha, na verdade nada chamava a atenção, só uma garota alta
branca de cabelo preto e tênis branco. Ela era o frisson na galera,
todos se insinuavam para ela, eu nunca vou saber se ela percebia que
aquele nosso mundo masculino estava na dela, e se ela não lê esse
texto e se tocar que estou falando dela eu jamais terei coragem de
perguntar. Assim são os escritores românticos, grandes covardes no
dia a dia e habilidosos nas linhas que compõe os seus textos.
Se
eu fechar os olhos posso ver aquele sorriso como na primeira vez e
essa imagem me basta para compor todas as excêntricas canções e
textos possíveis. Acho que era isso que os outros meninos sacaram
também, era um festival de testosterona a flor da pele. Todos numa
disputa nonsense para ganhar a menina de cabelo preto e tênis
branco. Lembro quando fomos todos a praia e ela estava de maiô
vermelho, apesar de toda a paisagem natural em frente ao mar nada se
comparava aquela beleza humana, e eu de longe, longe mesmo como na
distância de algumas palavras admirava quieto, apaixonado também
por que não? Afinal eu não sou diferente de ninguém, talvez eu
seja só um pouco mais carente, profissional.
Eu
jamais vou citar o seu nome pois aqui não é as revelações de eu
era um lobisomem juvenil, eu não ousaria. E o eu aqui no texto pode
ser você, pode ser qualquer um. Quando se inventa uma história de
amor é preciso entender que o amor é uma identidade comum a todas
as pessoas, e eu estou falando da menina branca de cabelo preto e
tênis branco, ela não é só o meu eterno amor, é todo mundo que
também sonhou ter a sua amizade. Acontece que eu sou pequenino como
um grão de areia e tolo como um simples cão. Acho que o universo
entende que sou assim, por isso ele me dá oportunidades únicas, e
foi o que aconteceu.
Certa vez, cedo da noite eu estava escorado em um automóvel que nem
sei de quem era em frente a praça e de costas para a igreja e me
aparece a menina branca de cabelo preto com vestido azul e tênis
branco, senti uma pequena emoção naquele instante e nós começamos
a conversar. Não sei o que alguém pode ver numa voz rouca e falha
como a minha, ainda mais com essa dicção horrível que me pertence,
mas nosso papo foi maravilhoso. Havia reciprocidade naquele casal ali
naquele momento, o depois é engano do processo histórico o que
importa e a descoberta do amor ali naquele momento. Olhos nos olhos,
cada vez mais intenso, nunca antes houve uma conversa entre a gente
naqueles termos, mas a cumplicidade era tão linda como ainda hoje é
o seu sorriso. E começamos a namorar ali, e aqui para a minha
história. Não interessa o que veio depois, não é legal nem para
mim. A vida não é filme e disso eu sei na prática, mas se fosse um
filme eu queria um musical dos anos 30, cheio de amor e gratidão
pela menina branca de cabelo preto e tênis branco.
EU SÓ
QUERIA LHE DIZER QUE AQUELA DOR JÁ PASSOU…
GEORGIANO DE CASTRO
Comentários
Enviar um comentário