O DESERTO E SEUS DESERTADOS
Naqueles
tempos os homens daqui vagavam a procura de prazeres escassos, não
bastasse a escassez de tudo ainda havia esse pequeno mas importante
detalhe, não existiam mulheres limpas ou de boa aparência por aqui.
Não sei dizer se era lenda ou qualquer lorota urbana que se conta
nas esquinas, mas vale ressaltar que os homens daqui já não se
encontravam para papiar nas esquinas, todos conheciam o perigo da
censura dos dias de antes do fim, mas reza a lenda que mulheres, as
últimas descentes só se conseguia atravessando o deserto. Na
escassez de mulheres outros tipos femininos ofereciam serviços de
baixo meretricio por trás dos escombros, ou nas encostas dos
mangues, pelo menos no que restou do bioma. Não era isso o que ele
queria, o heroísmo tem motivações medíocres nos dias vermelhos,
então só lhe restava uma alternativa, teria que enfrentar o deserto
e suas dificuldades.
Ainda
não tinha amanhecido quando ele partiu, um homem magro e barbado,
envolto em trapos que lhe cobriam o corpo para proteger do calor
daquele Areial. No deserto ele já não sabia o que era céu, o que
era terra, as noites eram frias e havia umidade, já nos dias havia
secura e calor intenso, além das tempestades de areia trazidas pelo
vento. Algumas vezes observava uma espécie de oásis, mas não
passava de divagação de sua mente cansada, noutras vezes sentia a
sensação de fogo por perto, mas nada além do sol intenso. Para
atravessar aquele território sabia se que seria mais ou menos
quarenta dias e quarenta noites e ele pensava em desistir, mas não
tinha como voltar, nesse deserto de antes do fim só existia uma
forma de orientação, que era justamente seguir em frente.
As
vezes ouvia a risada dos demônios, pobres coitados, os demônios do
deserto são como hienas, até o fedor é igual. Não haviam corpos
de aventureiros que por ventura tenham tombado naquela jornada, mas
ele observava seus espíritos vagando entre temores, espasmos e
ranger dos dentes. No meio do deserto ele encontro um filamento de
água púrpura jorrando, desconfiado aproxima se e de repente aquele
filamento se transforma numa serpente. Um suor frio desceu pela sua
espinha, pudera, ele sabia que a serpente era mal presságio desde a
época que aquele deserto era um jardim. E a serpente lhe sorriu,
qualquer coisa é melhor do que o riso da serpente, simplesmente por
que ele embriaga e nosso anti herói, patético, sentiu a vertigem. A
serpente abriu no espaço-tempo uma janela, espécie de portal que
levava a um pátio onde haviam umas duzentas freiras de hábito preto
e branco tradicional, ele sorriu, aquele sorriso meio que orientava a
serpente a continuar sua tortura e ela ordenou que as freiras
tirassem o hábito deixando as nuas em pelos, duzentas freiras de
todas etnias e sabores, ele sabia qual o próximo passo da serpente,
e quem ainda hoje que tudo acabou não sabe? Eis a proposta: - Se
entregue a mim e lhe darei todas essas devassas! Ainda faltava meio
deserto, nosso falso herói era meio brasileiro e não perderia levar
aparente vantagem nem se fosse convite de diabos. Então aceitou!
Naquele
instante sumiu o calor escaldante das areias e seus pés descalços
pisavam um frio mármore do pátio, limpo como se tivesse tomando uma
dúzia de banhos sentia se cheirando a jasmim, caminhava insinuante
vestido a um sobretudo azul-marinho de linho fino, até que encontrou
uma fonte de água límpida onde as virgens tomavam banho entre
carícias e leves sorrisos, aproximando se elas o percebem
atenciosas, seus olhos, lábios e sexos expostos sugerem desejo, ele
então retira o sobretudo e ver cair sobre si o escarnio entre
soluços e lágrimas. Faltava lhe o membro, a masculinidade
propriamente dita. Elas se riam enquanto caem lhe os dentes, também
apareciam varizes e rugas e elas que continuavam escarnando, ele
sentia suas mamas crescerem até jorrar leite com odor de pus, elas
se contorciam até virar bichos podres, soltando flatulências
medonhas, então o pátio volta a ser deserto e ele chora ao perceber
que as mais belas freiras haviam se transformado em hienas
verde-amarelas, famintas elas o devoram e é só mais um personagem
daqueles tempos que não consegue atravessar as quarenta noites e
quarenta dias do deserto.
Georgiano
de Castro.
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