SOMOS UMA OUTRA COISA.
Eu sou outra coisa, diferente disso que anda por aí. Quem entre
nós não gostaria de falar isso, e muito mais ainda, acreditar de verdade no que
está dizendo. Foi um caminho muito duro até aqui, mas hoje, com certeza,
acredito que posso falar essa frase com um quê de verdade substancial. Quando iniciamos
nossas atividades como “undergrounds” quetificados, organizando festivais,
trabalhando com um monte de bandas de garagem que não tinham onde tocar e eram
autorais, e além de produzir ainda tínhamos a esperança de sermos uma dessas
bandas. Nós não tínhamos noção da onde iríamos chegar, e é claro que queríamos ter
destaque entre a turma, não como principal referencia, que não é o nosso forte
mesmo e quem nos conhece sabe muito bem disso. Mas queríamos estar inseridos na
coisa que não existia, e sem nossa loucura e dedicação não poderia existir, que
é a cena de rock do sudoeste de Fortaleza.
Nós éramos no inicio dos anos 2000 a sobra da banda Em Si, comigo,
Georgiano de Castro, o meu grande irmão Thesco silva, e o Cícero Alexandre. Era o fim de
várias ilusões que nos quinavam na adolescência, paixões ideológicas e bobagens
afins, é desse tipo de atitude que estou me referindo. Era uma época de
reafirmação para todos nós, havia uma pressão social muito natural a quem
começa a perceber que tem que participar de vez no mundo adulto. Ninguém espera
que três jovens rapazes casados e proletários pudessem continuar querendo ser
uma bandinha de rock entre tantas que existiam com meninos de mais ou menos 10
anos mais jovens, mas era realmente isso que eu queria, e o Cícero fechou
comigo.
É nesse ambiente e com a soma de outras pessoas no processo, que surgimos como THE GOOD GARDEM, assim mesmo escrito errado, e com esse nome pretensioso
que nos colocava como representantes auto - legitimados de uma região que é mil
vezes maior e mais complexa do que tudo o que hoje podemos alcançar. E por
mais que outras pessoas tenham sim sua contribuição, essa banda é um projeto
conjunto meu e do Cícero, e a gente soma o thesco nisso por pura consideração,
afinal entendemos que se nesse momento ele não estivesse meio perdido com as
complicações de sua vida particular, somaria junto quando pensamos em fazer
rock popular. Queríamos lembrar Jovem Guarda, afirmar que a Jovem Guarda é o
primeiro rock Brasileiro, que os anos 60 & 70 eram nossa influencia maior,
e que apesar da minha dedicação aos rockabillys clássicos e a galera do que se
acostumou chamar de “invasão britânica”, nossa principal referencia era o rock
popular Brasileiro. Afinal somos uma banda de meninos se aproximando dos 40
anos, apesar de ter um moleque lobo de 20 e poucos junto conosco e
representando, acredito que esse olhar pra dentro é nosso potencial maior. Não
temos vergonha do rock nacional, não nos esforçamos pra falar inglês e pousa de
rockers Stones, não usamos preto, somos coloridos, de um colorido não andrógino
nem moderno, mas berrante. Escrevemos fácil, crônicas do dia a dia, coisas do
quintal que se ampliam em uma linguagem global.
Quando vejo, em um anfiteatro, onde vamos encerrar uma noite
de um festival de rock, todas as bandas anteriores terem o público sentado nas
arquibancadas e quando entramos vir uma parcela considerável para a grade que
separa o palco do público para dançar, curtir, gritar piadinhas cearenses... Percebo
que trocar coisas maravilhosas como AC/DC e GUNS N’ ROSES, por outras coisas
maravilhosas como INCRÍVEIS E ERASMO CARLOS valeram a pena. Poder inserir no meio
da nossa apresentação uma música de Leno e Lilian, ou uma versão de Chuck Berry,
feita em 1990, nos fortalece muito. Somos meio que os Reginaldos Rossis do rock
under daqui. E como acredito no poder do rock popular Brasileiro, resolvi
compartilhar alguns discos históricos do estilo que fazem parte do material de
pesquisa e adoração da Good Garden, deleitem se que isso daí é rock do Brasil! Beijão
e muito obrigado a todos.
De 1966, trago o segundo long play do tremendão que eu consegui uma cópia em compact disc no final do anos 90, quando a industria Brasileira de discos estava remasterizando esses clássicos:
De 1070 trago um clássico de uma das minhas bandas preferidas, os Incríveis, que no inicio da carreira se chamavam The Claver's, e influenciou na The Good Garden o uso do artigo definido.
De 1974, um dos discos mais rockers de toda história do rock Brasileiro, o LP da banana do Made in Brazil, o primeiro do grupo, e com o inimitável Cornélius Lucifer nos vocais, é nesse disco que tem a melhor versão de aquarela do Brasil de Ary Baroso, afinal todo mundo sabe que essa música é um puta rock!
De 1979/80, o ultimo LP da parceria Rita Lee & Tutti Fruti, o Clássico Babilônia, música regravada pelo Barão Vermelho nos anos 90, uma perola.
Escutem com atenção, essa é a verdadeira raiz do rock Brasileiro e muita gente precisa conhecer. Mais uma vez obrigado e valeu!
Georgiano de Castro.
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