20 DE ROCK NO BOM JARDIM

       A criatividade sempre esteve presente no meio da juventude da periferia de Fortaleza, sempre desassistida e por muitas vezes exposta a todo tipo de marginalidades. Era preciso usar de meios criativos para vencer barreiras e proporcionar interação e sociabilidade. Desde quando cidadania era só um conceito distante, em plenos anos 70, no grande Bom Jardim, a criatividade dos jovens os fazia protagonistas de ações e organizações que driblavam o abandono e a entrega à própria sorte.






       Influenciados pela televisão, após a copa de 1970, e logo depois pelos campeonatos regionais de futebol, que eram transmitidos via rádio, e pelo campeonato Brasileiro, que iniciou em 1971. Os garotos do bairro criavam suas ligas de futebol de várzea em duas categorias; com onze na linha, descalços ou calçados, ou de sete na linha sempre descalços, modelo a que outrora foi chamado de society. A organização e disciplina dos campeonatos e das ligas de futebol de várzea, ao que chamamos de suburbão, ou liga suburbana, beiravam a atitude militar tamanha a rigidez e cumprimento das regras pré-estabelecidas que seguiam o modelo dos campeonatos oficiais. Com isso durante toda a década de 1970 e até metade dos 1980, os sábados e domingos do subúrbio tinham toda uma grande movimentação em torno dessa cultura esportista, movimentando a comunidade em torcidas, e alguns empreendedores que cormecializavam artigos de interesse geral do público.






        Influenciados também pela mídia, dessa vez o cinema com o filme Saturday night fever (os embalos de sábado à noite). Começam a aparecer em todas as partes pequenas danceterias, muitas delas eram apenas quintais cimentados, onde a comunidade se reunia para dançar a discotheque, e a lambada do Pará, além do forró eletrônico proveniente de artistas independentes da própria cidade. E uma cultura nova, chamada tertúlia. Com origens em Portugal as tertúlias fazem parte de todo um conceito histórico da cultura luso brasileira. A tertúlia é na sua essência uma reunião de amigos, familiares ou simplesmente frequentadores de um local, que se reúnem de forma mais ou menos regular, para discutir vários temas e assuntos. Contudo, e como o jornalista português Belo Redondo disse, "a vida nacional gira à volta de uma chávena", numa referência inequívoca da importância das tertúlias em Portugal. As tertúlias foram "importadas" para Portugal de Paris, onde surgiram e se espalharam pelo mundo, associadas aos cafés. Cada café tinha uma, ou mais, tertúlias sobre temas diferentes. Paralelamente, os seus integrantes identificavam-se como pertencendo à tertúlia A ou B, numa clara divisão das águas entre correntes de pensamento diferentes. Historicamente em Portugal o Chiado, dado o grande número de cafés aí existentes, assumiu a liderança em número de tertúlias;  A Brasileira, o Nicola e outros receberam tertúlias com participantes tão influentes como BocageAlexandre HerculanoAntónio Feliciano de CastilhoAlmada NegreirosEduardo VianaAntónio BottoFernando PessoaMário de Sá Carneiro ou Stuart Carvalhais entre outros. No Porto o MajesticA Brasileira e o Guarany, eram os locais por excelência onde se reuniam intelectuais, artistas e políticos. CoimbraFaro, na realidade qualquer cidade ou vila de Portugal, tinham nos seus cafés tertúlias, onde se discutia tanto a política nacional ou internacional, o futebol ou o mais recente mexerico da terra. Foram em torno destas tertúlias de café que a política e as artes portuguesas do século XIX e primeira metade do século XX se desenvolveram, pelo cruzar de opiniões, troca de ideias, apresentação e discussão de ideias e livros novos, etc. Com o advento do Estado Novo as tertúlias tornam-se o último reduto da discussão livre da censura, mas que com o tempo são cada vez mais espiadas pela PIDE(Policia Internacional e de Defesa do Estado). Um exemplo disto foi o Grupo do Café Gelo. Paralelamente, a melhoria das comunicações, nomeadamente com o advento da televisão, e o aparecimento de outros espaços, levou ao desaparecimento gradual das tertúlias. Atualmente assiste-se a uma tentativa do seu renascimento, com várias instituições a criarem tertúlias sobre vários temas. No Rio Grande do Sul, situado no sul do Brasil, as tertúlias foram um importante meio de difusão cultural, incluindo música e poesia, e vêm sendo valorizadas pelos movimentos tradicionalista e nativista daquele Estado da Federação brasileira.






       Em épocas de ditadura e censura o conceito de maior idade ganha uma força reguladora enorme. Isso fazia com que jovens menores de 18 anos, não podendo participar das festas e encontros musicais adultos usassem de criatividade e ironia para se divertir e enfrentar o regime. Surgem então as Tertúlias em Fortaleza, festinhas de jovens menores de idade em suas próprias casas, animadas por sons 3x1, e discos de vinil de discoteca e forró eletrônico da época e bebidas alternativas como aluás e caipirinhas. Sendo uma alternativa criativa, com o tempo foi se vulgarizando e servindo também ao público adulto que adotou as tertúlias como forma de diversão barata e segura, o que de certa forma também respondia a recessão econômica que país atravessava. Com a chegada dos anos 80, já conhecido o conceito em toda a cidade e região metropolitana, as tertúlias acompanhavam o som da época, que ia dos pós-punk, new wave, new romantic e rock nacional, a lambada e guitarradas do norte. Porém na segunda metade da década fica registra a encontros somente entre jovens suburbanos já que perdia espaço para as equipe de som como Arroz com Fumo, Alternativa e Circuito. E nos anos 90 e 2000 alcança o status de memória coletiva presente das décadas passadas. Mesmo com um conceito moleque, espojado e totalmente inverso do geral ou da raiz a tertúlia cearense representa mais uma forma criativa dos jovens para autopromoção da cidadania.





       Sob influencia da discotheque, e outra vez do cinema, dessa vez pelo filme Break Dance de 1984, surgem os primeiros grupos de dança de rua. Sob influencia de filmes como o clássico; Os meninos da Rua Paulo, e os futuristas, Laranja Mecânica e The Warriors (os selvagens da noite). Surge o conceito de gangues urbanas entre os jovens do Bom Jardim. Todas essas novidades introduzidas no universo particular do bairro vinham de certa aculturação que sugeria o agrupamento de jovens em busca de ideais comuns, fosse diversão, fosse ideologia ou esporte. O punk era o lado mais ideológico, nascido em Nova York, cruza o atlântico entre 1976/77 e de lá espalhasse pelo mundo, chegando à fortaleza no inicio dos anos 80.





       No governo do presidente, o ultimo do regime militar, João Baptista Figueiredo. Os primeiros punks surgem no estado do Ceará. Primeiramente em Fortaleza, no Bairro Antonio Bezerra, e em Maracanaú, no Distrito Industrial. O interessante é que nesse período o bairro Antonio Bezerra era uma região industrializada também, algo que remete as origens Punks em todas as partes do planeta. Influenciados pelo Punk rock Paulista, principalmente pelas coletâneas, “o Inicio do Fim do Mundo” e Sub, os primeiros punks cearenses surgem no meio do movimento das gangues.




       A repressão do regime, a crise econômica, a falta de perspectivas, a estética agressiva, tudo trazia mais e mais adeptos ao conceito Punk. A fúria dos versos das primeiras bandas com compilações nacionais passaram a servir de bandeira para toda uma horda de marginalizados dos subúrbios e regiões periféricas. “Aonde a COHAB alcança o Punk chega junto!” O sentido de movimento ganha força pelo lema; Do It Your Self, as tertúlias dos Punks ganham o apelido de salões, onde começa a rolar o som das bandas em fitas k7.  Os grandes nomes dessa época do movimento são exatamente: O Dedé Podre, saudoso, assassinado no inicio dos anos 90, passando ao status de lenda entre os iniciados. Flor Punk, (hoje conselheira tutelar), E o Gato, (grande nome da cena skate alencarina).  No inicio do governo de José Sarney, os punks do ceará assumiram a Praça José de Alencar como point de encontros. E aos poucos os fortalezenses vão se acostumando com a sua presença. Logo ganham o respeito dos ambulantes e dos meninos de rua do centro também. É a melhor tradução do governo municipal de Maria Luiza Fontenelle, e dos estaduais, Gonzaga Mota e Tasso Ribeiro Jereissati. Como resultado de um aspecto multiplicador e dissipador ao mesmo tempo, logo surgem as facções, separadas pelas suas compreensões e modos operantes. Os carecas do Brasil grupo mais extrema direita, de intenções próximas ao neo nazi/fascismo, surge como voluntários da pátria na Jurema – Caucaia. Os Anarco punks, em bairros como Bom Jardim e Siqueira, os Pelegos, na UJS – União da Juventude Socialista do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), e ADS – Adesão Socialista do PT (Partido dos Trabalhadores). Mas nem todos entre os punks tinham essa consciência tão forte do movimento ou de política em geral. O movimento tinha certas características que aproximava toda uma leva de baderneiros, jovens interessados em brigas e drogas leves como anfetaminas e cola de sapateiro. Havia certa rejeição aos Head Bangers, Metaleiros, seguindo uma tendência alienada mundial, eram constantes brigas entre os dois lados. Mas a ilusão de uma pureza meio que ideológica entre metaleiros e punks é lenda no Ceará. Como passamos por um longo período de controle social, toda a informação chegou com um considerável atraso no Brasil. Então era comum entender o fenômeno tudo ao mesmo tempo agora! Esclarecendo melhor, era o Punk, o pós-punk, o new wave, o clubber... Tudo misturado, sem uma ordem cronológica, e em meados de 1987/88 aparece um novo estilo com muita força também, o RAP, abreviação de Rythm and Rhime, ou em português, ritmo e poesia.  O rap, comercializado nos EUA, desenvolveu-se tanto por dentro como por fora da cultura hip hop, e começou com as festas nas ruas, nos anos 1970 por jamaicanos e outros. Eles introduziam as grandes festas populares em grandes galpões, com a prática de ter um MC, que subia no palco junto ao DJ e animava a multidão, gritando e encorajando com as palavras de rimas, até que foi se formando o rap. A origem do Rap veio da Jamaica, mais ou menos na década de 1960 quando surgiram os sistemas de som, que eram colocados nas ruas dos guetos jamaicanos para animar bailes. Esses bailes serviam de fundo para o discurso dos "toasters", autênticos mestres de cerimônia que comentavam, nas suas intervenções, assuntos como a violência das favelas de Kingston e a situação política da Ilha, sem deixar de falar, é claro, de temas mais polêmicos, como sexo e drogas. No início da década de 1970 muitos jovens jamaicanos foram obrigados a emigrar para os Estados Unidos, devido a uma crise econômica e social que se abateu sobre a ilha. E um em especial, o DJ jamaicano Kool Herc, introduziu em Nova Iorque a tradição dos sistemas de som e do canto falado e foi se espalhando e popularizando entre as classes mais pobres ate chegar a atingir a alta sociedade. Antes mesmo do rap chegar ao Brasil, algumas canções no estilo já tinham sido lançadas. Como possíveis primeiras canções estão "Deixa Isso Pra Lá" (1964) de Jair Rodrigues , "Melô do Tagarela" (1979) de Arnaud Rodrigues e Luís Carlos Miele (paródia de Rapper's Delight de Sugarhill Gang) , "Mandamentos Black" (1977) e Mêlo do Mão Branca" (1984) de Gerson King Combo . Outros como um dos maiores representantes do estilo, o Rappin Hood, apontam que os repentistas nordestinos seriam os precursores do estilo no país .





       O rap chegou ao Brasil no final dos anos 1980, com grupos de periferia que se reuniam na estação São Bento do metrô de São Paulo, lugar onde o movimento punk também surgiu. Nesta época, as pessoas não aceitavam o rap, pois consideravam este estilo musical como sendo algo violento e tipicamente de periferia. Os primeiros a frequentarem o local foram os dançarinos de break dance (estilo de dança de rua que simulava movimentos de robôs com movimentos de capoeira), o principal tipo de dança hip hop. O dançarino Nelson Triunfo é considerado um dos primeiros dançarinos de break dance do país. Dentre estes b-boys, muitos acabaram decidindo serem rappers, como são chamados os cantores de rap. Apelidados de "tagarelas", tiveram que se mover para a Praça Roosevelt porque houve uma divisão de grupos para cada um continuar difundindo um pilar da cultura hip hop em cada lugar. Pouco tempo depois, os rappers tornaram-se os principais representantes do movimento no Brasil.


Foi de colaboração essencial para o desenvolvimento do rap no país a apresentação do popular grupo americano Public Enemy, em 1984. Através dele foi apresentado o rap a um número grande de pessoas e começou a se difundir rapidamente entre a periferia dos grandes bairros. Em 1987, foi lançada "Kátia Flávia" pelo cantor e ator carioca Fausto Fawcett, considerado o primeiro rap do respectivo estado. O primeiro álbum exclusivo de rap brasileiro que se tem notícia é Hip-Hop Cultura de Rua, lançado em 1988 pela gravadora Eldorado e produzida por Nasi e André Jung, ambos integrantes do grupo de rock Ira!. Nele foram apresentados artistas como Thaíde e DJ Hum, MC Jack e Código 13. O destaque ficou por conta de Thaíde, que interpretou os clássicos versos: "Meu nome é Thaíde /Meu corpo é fechado e não aceita revide". As bases do disco eram baseadas em funks americanos e acompanhadas espontaneamente de scratches feitos pelos equipamentos de DJs. Em fortaleza, os primeiros sucessos do novo estilo foram: P de Pepeu – do MC Pepeu, e a Largatixa na Parede – do MC N Dee Naldinho. Havia varias tribos urbanas, cada uma delas defendia a sua atitude como bandeira. Dos esportes vinham os BMX – que curtiam bicicletas cross e seu espírito de esporte radical, e os Skatistas. “O Balanço”, como ficou sendo conhecido o estilo New Wave, passou a ser chamado de Funk com a chegada da música clubber e do Miami Beat, divulgados pelos LPs (Long Plays) de equipes de som como a carioca Furacão 2000. E os pichadores, que viraram febre após o lançamento do vídeo clipe da música ideologia, do Cazuza.



O surgimento do Balanço, que logo depois foi promovido a Funk, fez surgir outro forte movimento. Era comum a migração dos desordeiros de dentro do punk para o Funk e, por conseguinte para cultura da pichação. O punk carregava um “status” de político ideológico que necessita um mínimo de conhecimento, o que não abarcava a todos os jovens suburbanos por causa da educação escassa e excludente do período. As frases de efeito com teor proto político foram trocadas por rabiscos inteligíveis com a marca de um mero apelido pessoal e a abreviação da gangue que o organizava. Surge uma nova linguagem gráfica que pertencia ao underground, onde só os iniciados conseguiam entender. A popularização da pichação e do funk fez surgir varias novas gangues especificas dessa atividade, dentre as principais estão; EDT – Espírito das Trevas, GDR – Galera das Ruas, CPX – Crucificados pelo Xarpi, APX – Apaixonados pelo Xarpi, JP – Juventude Perdida... E o sucesso das compilações do furacão 2000 fez surgir equipes de som itinerantes como: Arroz com Fumo, a Turma do Circuito Cidade de Som, Alternativa, Super Dance, e Emessom. O período que começa no final dos anos 80 e persiste por todos os anos 90 é marcado pela migração para o Funk e a escassez do movimento punk, o que de certa forma contribuiu para uma quinada positiva no movimento, pois os que resistiram ao conceito de nova alienação dos bailes Funks e turmas de pichação contribuíram para uma maior organização das ações e linhas de pensamento através de atividades no esquema Do it your self.



       Nos anos 90 o conceito de território ganha outra vez um destaque entre as gangues, que junto aos novos conceitos alienados introduzidos pela cultura da pichação, fizeram a violência urbana alcançar índices cada vez mais alarmantes. Drogas baratas como a cola de sapateiro, vulgarmente chamada de Meca, assim como a canabis sativa e os psicotrópicos são cada vez mais popularizados. Começando também a ser entendido como calamidade pública, mas ainda muito de leve. Em 1999, os bailes Funk se tornam verdadeiros rinques de luta com a disputa de dois lados denominados lado B, lado A. As autoridades de segurança em geral, principalmente a policia militar, dão uma maior atenção a esse fato. Há quem diga que na verdade houve mesmo foi uma pressão da nova indústria cultural do forró, mas não é algo comprovado. Com isso no inicio dos anos 2000 os bailes Funk e as equipes de som são extintos em Fortaleza. Mas a desordem e o conceito de violência ao contrario do que se possa imaginar não cessa, há uma nova migração e o foco passa a ser o futebol e as torcidas organizadas, principalmente dos dois principais times da capital e suas respectivas torcidas: Cearamor e Tuf (Torcida Uniformizada do Fortaleza).




O Punk enquanto movimento volta ao conceito de gueto, em focos organizados em diversos bairros da cidade e região metropolitana. Destacam – se nesse período os bairros: Antonio Bezerra, Bom Jardim, Montese, Conjunto Industrial, Pajuçara... Alguns movimentos continuam fiéis aos seus princípios, outros migram em outras experiências e entendimentos no meio social, porém a urgência e verdade do Do It Your Self permanecem ao longo de todo processo de adaptação aos novos horizontes. E mesmo com tantos subgêneros, tantos entendimentos, tanta complicação. O movimento Punk é uma realidade social, uma cultura que se expressa de forma dinâmica com identidade própria. Por traz da bandeira anarquista apresentou se um novo conceito criativo de economia e desenvolvimento, com foco local, integrado por redes comunitárias e por uma nova colaboração corporativa que se apresentou como alternativa viável para muitas expressões artísticas. Elevado ao patamar de estilo de vida por alguns de seus adeptos, o movimento Punk é uma realidade mundial. 






       No Bom Jardim a cultura punk foi essencial, na virada dos anos 1980/90 o conceito punk ganha à adesão de vários CDFs, ou nerds como se chama hoje, pela urgência de expressão e pelo desafio do lema do movimento, o “Do It Your Self” (faça você Mesmo). Consistindo em os próprios participantes dos grupos criarem os seus meios e espaços. Com isso surgiram fanzines, bandas, locais alternativos para as bandas tocarem, músicas autorais, rádio comunitária, camisetas, botons etc... no inicio, houve toda uma luta para conseguir espaço onde bandas de garagem mal encaradas pudessem tocar. No inicio dos anos 90 estava muito difícil conseguir esse feito e as bandas tocavam para o publico das ceb’s, as Comunidades Eclesiais de Base em cenas até impossiveis de se imaginar com bandas de rock fazendo apresentações após celebrações religiosas. A cena circulava entre as diversas comunidades organizadas em ceb’s dentro do território do bairro, Partindo do Maracanaú para Fortaleza tínhamos as comunidades (cebs) Jarí, Siqueira II, Jardim Jatobá, parque São João, Nazaré, Canidezinho, Canudos, parque Jerusalém, parque São Vicente, parque Santo Amaro, parque Santa Cecília, Santa Luzia, NSRA Aparecida, Granja Lisboa e Santa Paula Francinete. Depois desse pequeno período houve o quintal do CDVHS, Centro de Defesa da Vida Herbert de Sousa, ONG local que liberou o quintal da sua sede para os eventos das bandas autorais de rock.  Em uma pesquisa realizada pela ONG Movimento Não Violência, em 1999, havia cerca de 60 bandas atuantes em todo o Grande Bom Jardim e adjacências. Diversos eram os estilos e discursos, mais todas traziam do punk a urgência do Do It Your Self. Bandas como MDA – Motivo de Anarquia, Tautofonia, Rotten times, Protesto Explicito, Peso da coisa, Abstinência, Em Si, Hurbanóides, Rotação 44, Amigos do Gato Félix, Sebaoth, One X, Catapulta, Yeah! Paradox e The Good Garden São consideradas históricas por um público local. Os shows migram do quintal do CDVHS para o pátio do colégio Sol Nascer, lá os shows passam a ser semanais, com a organização da banda Peso da Coisa, e divulgação direta do programa Manhã Rock, da Nossa Voz FM, rádio comunitária local. A rádio divulgava CDs autorais de bandas locais, pequenos estúdios entram no mix de serviços que passam a atender esse nicho de mercado, estúdios de ensaio que viram estúdios de gravações a partir da revolução tecnológica que chega aos poucos no bairro. Todo esse universo fez com que alguns protagonistas advindos do punk rock criem uma cooperativa de bandas onde os grupos se unem para produzir e conseguir maiores vantagens para a cena. A existência de uma cooperativa de bandas chamada Cooperativa Underground, a Cunder fez surgir um festival que se tornou marco na cena autoral da região sul de fortaleza, o Rock Até os Ossos, que já teve oito edições, algumas com a circulação de outros grupos nacionais.







       Com o tempo, surge uma nova linguagem dentro da música autoral das bandas de rock do Grande Bom Jardim. A regra geral de protesto planfetário vai cada vez mais perdendo sentido, principalmente depois da eleição de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Mário Cesar e Georgiano de Castro, esse segundo, um dos mais fervorosos da estética panfleto, surgem com uma musica mais leve, com dosagens de ironia e sarcasmo existencialista. Com base em blues rock básico e com isso surgem outros compositores como Cícero Alexandre, Fábio Paes, Diego Lima, Wellington Lobo e José Maria Jr, todos num sentimento mais influenciados pelo rock setentista e pelo discurso existencial com certas doses de sarcasmo e ironia.

https://www.youtube.com/watch?v=jkT1-a6lK0E



       O Grande Bom Jardim hoje é conhecido como o bairro mais rock in roll de Fortaleza, graças a influencia punk e a criatividade de seus principais atores. Todo final de semana Há eventos de rock autoral em algum lugar do Bairro, e já movimenta bandas de toda a cidade e do estado também, sendo que sempre que possível apresentam – se uma ou outra banda nacional. A banda de maior destaque dentre as bandas do Bairro é justamente a que leva o seu nome, só que dito em língua inglesa; The Good Garden. No inicio pensado para aparentar as bandas dos anos 60, que todas tinham seus nomes em inglês, como the clavers, the Jordans, the Fevers... E também para linkar com a rede de desenvolvimento local integrado e sustentável, a Delis. The Good Garden lança um estilo próprio ao qual denominam Rock Popular Brasileiro, trocadilho que além de ironizar a musica popular Brasileira, MPB também define e posiciona seu estilo. A linguagem escolhida devido à identificação com os chamados artistas “classe B”, como: Agildo Ribeiro, Dercy Gonçalves, Nelson Rodrigues, Messias Holanda, Velhas Virgens, Juca Chaves, Jurandir Mitoso e Alípio Martins. Que mesmo podendo falar de um assunto de forma politicamente correta ou linguisticamente formal, preferiram falar aproximando-se de uma forma periférica de dizer as coisas, da população que não sai em colunas sociais.  A estética da rua onde todo mundo se encontra pra fazer nada e de tudo juntos, a valorização de gírias e linguagens urbanas periféricas que retratam crônicas e personagens que nunca seriam citadas ou cantadas se não por artistas da periferia é o que é apresentado através de músicas simples com estilo rockão.





       Tendo em seu currículo uma turnê nacional e diversas viagens para outros municípios e estados, a banda tem uma trilogia de quatro CDs, chamada trilogia Godzila, em referencia ao seriado de cinema cujo principal personagem é um monstro que mistura 03 espécies de dinossauros em um só corpo. “Para Quando Godzila Voltar a Atacar o Planeta dos Macacos Sem Pelos”, lançado em 2011, “. “Para Quando Godzila Voltar a Atacar o Planeta dos Macacos Sem Pelos 2 – A Missão”, lançado em 2014, e “Godzila o inicio da bestagem” compilação dos três Eps anteriormente lançados da banda, ainda em produção. A banda é formada por Georgiano de Castro, Ativo na cena rock do Bom Jardim desde 1992, Quando formou junto a Francisco Silva a MDA – Motivo de Anarquia, Depois durante 09 anos fez parte da Em Si, tendo breve passagem na Hurbanóides, e voltando para Em Si, Que findou atividades para iniciar a The Good Garden. Junto a Cícero Alexandre, baterista da banda, e Francisco Silva, o Cthêsco, fundou o Movimento não Violência, ONG da onde nasceu a cooperativa underground – Cunder, que integrou e organizou o movimento de bandas no bairro. Sendo junto a The Good Garden, A yeah e a Paradox, responsável pelo período de maior maturação da cena, abrindo espaços para a linguagem rock do Bom Jardim, dentro e fora dos seus limites geográficos. Da Barra do Ceará ao Lago do Jacareí, do Maracanaú a praia de Iracema e de Teresina a Santos SP, essa linguagem alcançou divulgando uma nova identidade do bairro que Situa-se no sudoeste de Fortaleza e faz divisa com os bairros do Conjunto Ceará, Siqueira, Bom Sucesso e com o município de Caucaia. Aqui moram 204.281 mil habitantes (Censo 2010 IBGE) - considerado o bairro mais populoso de Fortaleza,  é dividido em cinco bairros (Siqueira, Canindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e Bom Jardim) e é apontado pela mídia inventiva local como o logradouro mais perigoso e violento do estado.






       São mais de 20 anos de Rock alternativo autoral resistindo dentro do Bom Jardim, com isso podemos afirmar que a cultura rock é uma exponencial fortíssima na realidade local, geradora de cidadania e identidade cultural, contribuindo para a disseminação da criatividade e da resistência na base da sócio economia criativa que envolve grupo/bandas, pequenos estúdios, gráficas, confecções... Que geram insumos como Cds, botons, camisetas, imãs, festivais, shows, filmes etc... Apenas abordamos conceitos gerais sobre a cena e alguns de seus atores principais para demonstrar a força e a perseverança de uma juventude valente que na falta do que fazer resolver criar sua própria identidade. Desvirtuando com imagem que fazem da região, essa cena estabelecida hoje galga voos mais altos como o processo de profissionalização das bandas, que passariam a responder como micro empresas e assim poder circular em uma cena alternativa de centros culturais públicos e privados. Com isso iniciando uma nova fase mais madura na história inclusiva do rock como proposta de identificação local.


       



VALEU GEORGIANO DE CASTRO

Comentários

  1. Meu nobre escritor, voce afirmou que o grupo OS CARECAS pertence à extrema-direita. Minha pergunta é: NO BRASIL, COMO DEFINIR POLITICAMENTE A DIREITA?

    Abraços.

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    1. Existem dois entendimentos, quando falamos em anarquia pelo punk, não tem muito haver com a anarquia, politicamente introduzida pelos imigrantes italianos no país. Mesmo com as mesmas bases, o aprofundamento teórico e programático partidário, por exemplo, não faz parte do universo marginal. Com isso, e muito justamente, criam se novos entendimentos Bruno José, bem como criamos neo logismos. No caso do Punk Oi, ou Carecas do Brasil, a atribuição do extrema direita se dá através desse entendimento nosso, guetificado, com isso, o aspecto nacionalista anacrônico, a influencia militar em modos operantes e organizacionais, um machismo exacerbado entre outras características, tão próximas ao Nasi/Facismo, fazem com que esse grupo seja apontado por mim e por tantos como extrema direita, mas você há de convir que no Brasil não podemos cobrar pureza de posicionamentos nesses casos pois elas simplesmente não existem. Há hoje uma nova caça as bruxas contra essa esquerda anacrônica que está no poder, e sendo esquerda, como é o caso, é logo atribuído o socialismo a ela, e muitos se dizem socialistas mesmo, mas não é o caso aqui, o PT por exemplo é um partido trabalhista burguês, ou era, já que o trabalhismo cada vez perde mais o foco nas suas atuais administrações. Citei esse exemplo PT para você sacar o quanto é difícil compreender a pureza ideológica na pratica no Brasil. Você acha que o PSDB é social democracia ou social demagogia? Com isso, até fora desse entendimento neo logista marginal, entender direta e esquerda aqui dependem de circunstâncias e entendimentos, ou imposições de interesse diversos, absurdos e anacrônicos, para mim vale quem eu sou, da onde vim, a minha linguagem que é essa exposta aí, e o fato de apontar os carecas como extrema direita nesse nicho de entendimento não lhes atribuí, para mim, nenhuma ofensa ou desqualificação, até por que eu não sou partido, até discordo de uma coisa ou outra deles, mas os caras carecas que eu conheço, e é deles que falo no texto, são figuras ilibadas, quem é melhor do que eles nessa realidade virtual que temos hoje? Quem quer corrigir os outros é o cristianismo oficial, eu claro quero novos adeptos aos meus negócios, que são uma banda de rock, e shows esporádicos que produzo, mas aceitamos todo mundo, sem essa de direita/esquerda até por que não fui eu o criador desse entendimento nem de todos os possíveis partindo deles, esse fato de denominar os carecas do Brasil como extrema direita por exemplo não fui eu que criei, mas está vulgarizado, entenda vulgarizado como fazendo parte de um entendimento geral do meu público, por isso a citação. Obrigado pela participação e seja sempre bem vindo.

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  2. Meu querido escritor, entendo o seu raciocínio e até concordo em parte com ele, entretanto, com o devido respeito, devo discordar em alguns pontos.

    Em primeiro lugar, Não desejo tratar sobre esse grupo " os carecas", até por que meus posicionamentos são completamente o contrário do que filosofa esse grupo.Porém, minha dissertação reside em sua fala quando assinala a similaridade entre o conceito histórico de direita e o nazi-fascismo, elencando algumas características como "nacionalista anacrônico, a influencia militar em modos operantes e organizacionais, um machismo exacerbado" e as atribuindo a esse conceito, entendo que houve uma deturpação da ideia do que vem a ser direita.

    É compreensível que tenhamos a visão estereotipada de que a direita representa o atraso, a ganância e a violência, enquanto que a esquerda é a detentora do monopólio das virtudes. E o motivo desse pensamento? Décadas de ensino na área de humanas sendo desencadeadas por educadores com uma formação pautada no materialismo histórico dialético, logo, qualquer menção ao termo direita é visto como um flertar com o diabo. No Brasil, o conceito esteve ligado a políticos como FHC e JOSÉ SERRA , o que demonstra ser uma incoerência. Senão vejamos: Sempre quando escritores se referem ao golpe de 64, o denominam de ditadura de direita. Se FHC e SERRA fossem de direita, o que faria a ditadura perseguindo seus próprios companheiros? Recentemente, num encontro entre "intelectuais", FHC afirmou sua convicção esquerdista, porém com uma filosofia baseada no welfare state, a social democracia.

    Se fizermos um apanhado junto aos políticos brasileiros, chegaremos a triste conclusão de que não há pensamento de direita nesse país, pode até haver um conceito maculado, mas não há defensores dos reais pontos filosóficos da direita histórica. Parece loucura, não é? Mas pare para pensar. Qual partido político defende o LIVRE MERCADO, A LIVRE INICIATIVA, A LIBERDADE INDIVIDUAL, O ESTADO MENOS INTERVENCIONISTA, A SEPARAÇÃO DOS PODERES? Perceba, se a histórica direita mundial fosse NACIONALISTA como voce afirmou, ela daria um tiro no próprio PÉ, POIS NÃO HÁ como conjugar o nacionalismo com o estado mínimo, estado mínimo defendido pela escola Austríaca e que confrontou a interpretação Marxista da História. Entendo que o nacionalismo, o apego a formas militarizadas e o machismo, também são características de estados ditos socialistas. Não vou fazer uma demonstração teórica dessas características nos estados socialistas, pois o texto não possui essa finalidade. Entretanto, vale ressaltar que há mais similaridades entre o fascismo e o socialismo do que imagina nossa vã filosofia.

    Em segundo lugar, voce afirmou: " o PT por exemplo é um partido trabalhista burguês". Percebe-se claramente as influências Marxistas nessa afirmação, não que eu esteja lhe discriminando por isso, mas vale a pena comentar. O Marxismo é que venera a luta de classes, é que cria uma visão maniqueísta de bons e maus, burgueses opressores e trabalhadores oprimidos, exploradores e explorados. Sobre a teoria da exploração, que pode ser decomposta numa análise errônea do conceito de mais-valia e de valor intrínseco, podemos ter mais detalhes de sua refutação nas obras de Ludwig Von Mises, Carl Menger, Hayek, entre outros.

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  3. Meu caro Bruno José, o fato de o Nazi/facismo ser apontado como direita é fato! No caso especifico do nazismo,por exemplo, o partido nazista era uma das bases socialistas da Alemanha pós 1ª guerra, daí chama - lo de direitista seria um erro, mas, perceba, o que define o apontamento "DIREITA" não é o lado filosófico meu caro, ou programático como queiram alguns. É no modos operantis que se revela essa tendência, ao qual, nós, não partidários de lado A, lado B, nos referimos. Sendo isso Stálin, grande nome do dito socialismo real, também representa uma especie de direita por mais anacrônico que isso possa parecer. Como citei acima, não há pureza de pensamentos ou posicionamentos no Brasil, e vou mais além, no mundo todo essa tal pureza só existe em assembleias ou nas academias, na pratica, as coisas se misturam, a lógica do capital, isso falo independente do filosofo alemão Karl Marx, está sempre em movimento, nem os próprios liberais possuem ao certo um controle, ou o conhecimento de perspectivas da onde ela por si só poderá chegar. Diante desse fato, e tendo todo esse acumulo de informações e intervenções desastrosas dos dois lados, acrescentando a isso a perecividade da própria vida, nós, autênticos marginais, em ambos os lados da história do controle politico ideológico, ficamos em cima do muro, ou no centro como dizem certos intelectuais, e a nós é apontado um posicionamento que hora é chamado de centro esquerda, centro direita, mas que na verdade pouco importa. Fazemos um mix de liberalismo com social democracia, para criarmos propostas de intervenção social onde possamos nos expressar de forma livre, como ; a sócio economia solidária, a economia criativa, o desenvolvimento local integrado e sustentável... sendo que atribuir a qualquer um desses conceitos intervencionais apenas um caráter direita ou esquerda, seria deveras, muita ignorância do por parte de quem diz. existe um aspecto perigoso nesse caso, é a paixão! O ser apaixonado social e politicamente por um dos lados tende a erroneamente atribuir apenas vantagens ou verdades para o lado que torce, isso é imaturo, desconectado da realidade atual, não podemos nos desfazer de nenhum dos lados, temos sim que somá - los numa perspectiva de intervir racionalmente numa melhoria do status quo social, seja com base no individuo, e pra um poeta do rock a individualidade e essencial, ou na base social, pois ninguém, absolutamente ninguém é uma ilha. Fico extremamente feliz de perceber que surge um novo conceito de direita entre os jovens do Brasil, sejam bem vindos todos, e muito obrigado, dinovo pela sua tão bela intervenção.

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  4. Valeu a lembrança só queria ter a oportundade de tocarmos juntos outra vez.

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