Anos 90 - Fizemos Rock no Bom Jardim e invertemos o jogo

       Em 1987 houve uma assembléia constituinte, o Brasil saia da censura e começava a engatar novos horizontes. No ano seguinte, 1989 houve eleições diretas para presidente da república após amargos 29 anos, a última eleição direta para presidente da república federativa do Brasil tinha sido em 1960, eram 22 chapas disputando e no segundo turno chegam Fernando Collor de Melo, com Itamar Franco como vice, e Luiz Inácio Lula da Silva, com José Paulo Bisol como vice. E o mauricinho ganhou! Começa a chamada era Collor, E nós no Bom Jardim, Abandonados de só tudo, resolvemos erguer as mangas para fazer a nossa própria história. 



        Nada nos influenciava mais do que o rock, o rock nacional. a indústria do disco vivia o apogeu do que hoje se entende como o "Boom" do rock nacional, eram diversas as bandas, e nós eramos um núcleo de pivetes difíceis de se encaixar em qualquer esquema. Nerds sim, mas não assumidos! Bem antes dos anos 90, nós já eramos um grupo de garotos meio CDF's que se uniu pela força do gosto por música. Nossa turma era um como um clã fechado onde nem todos eram bem vindos, e nos auto intitulávamos a geração 90. Já nessa época estávamos eu, Georgiano de Castro, o Ctheysco,  o Novinho, e o Nildo. Só depois soma se o Alvaro, a Aurileide, e toda a horda que se tornou a Motivo de Anarquia (M.D.A). Lembro bem dos discos da gente: O Cassino do Chacrinha de 1985 - coletânea riquíssima de new wave nacional, um da Orchestra Filarmônica de Londres interpretando The Beatles com uns cantores de coral de igreja, mas de 15 Lp's da era disco, tipo; Explosão Mundial Discotheque, Saturday Night Fever, trilha do filme, Discotecas  Papagayos, entre outros, Não São Paulo, coletânea de bandas undergrounds cabeça lançado pela Baratos Afins, Titãs, RPM, Plebe & Rude... coisas assim. Não havia nada de especial demasiado na gente, só uma vontade de dizer as coisas e fazer rock, afinal era como se fosse nossa religião. 





        O punk nos influenciou pela simplicidade de se fazer um som, três acordes, as vezes dois, e pela ideologia anarquista do entendimento "Do It Your Self" FAÇA VOCÊ MESMO! Claro que fazer rock numa época fudida daquelas, sem nenhuma estrutura, só com a cara e a coragem era loucura. Nós usávamos roupas Sociais ou Waves, no mais fino trato dos filhinhos lindinhos da mamãe. De repente, orelhas furadas, roupas rasgadas, botas pretas, e o pior dos venenos para adolescentes de dez ou doze anos, o álcool. E é assim que anjinhos viram demônios lindos de Deus!



        
        É claro que não havia espaço para a gente, fomos conquistá - lo como bons cabeças duras que somos. A coisa é gradual, Primeiro surge a M.D.A, primeira banda, autoral, estética punk. Um ano depois ela se desfaz e surge a Em Si, autoral, pós punk. do outro lado haviam bandas de ensaio também autorais como o Protesto Explicito e a Rotten Times, autorais e punks. e um certo público minguado dessas bandas, até surgir a Tautofonia, banda cover, especialista em Legião Urbana e Anos 80! Pode quem quiser falar o contrário, mas quem popularizou o rock aqui na área  foi a Tautofonia, justamente por ser cover, eles faziam eventos grandes, todos fazíamos eventos próprios, mas os grandes eram deles, aí a Em Si começou a fazer cover de coisas como Uns & Outros e Plebe e Rude, e a merda do cover se espalhou. 



          Dois momentos são importantíssimos nessa época para a cena toda, primeiro através dos movimentos populares nós conhecemos uma tal de MPB - Música Popular Brasileira, e o Ctheysco se encantou.  Ele sempre foi um cara diferente, era influenciável deveras e mantinha aquela pose new romantic. Junto a MPB vem toda uma parte da história do Brasil que não sabíamos, ou melhor, que antes não era permitido saber. Lembre que eramos Nerds, cada um ao seu modo, João Neto, Eu, Cicero Alexandre, Ctheysco... Nós não nos permitíamos a burrice, Já não tínhamos quase nada, se fossemos burros seria o fim da picada, então esse era o momento do turbilhão de informações chegando e a gente consumindo tudo com álcool. O segundo foi quando assassinaram o Novinho! Havia gangues? Havia! Havia uma estupidez generalizada? Havia! Mas não nos alcançava, éramos meninos do grêmio estudantil, das cebs, do movimento cultural jovem, da esquerda, perto das ruas, mas não entregues a elas. Eles tiraram a vida de um de nós, o que devíamos fazer? Quem será o próximo? Ficaremos calados? E surge o Movimento Não Violência. 



         Nós do Grande Bom Jardim estamos longe do centro econômico da cidade, não somos área turística, nem tão pouco zona acadêmica. Aqui é só onde moram os trabalhadores, ou seja, não somos economicamente relevantes para essas administrações populistas daqui. Nossas conquistas veem da força do trabalho e da movimentação popular, a igreja tem e teve um papel fundamental nisso e na época do chamado "Boom" das Ong's (Organizações Não Governamentais), e do terceiro setor, o bairro foi a luta e conseguiu consolidar muitas coisas. O MNV, era mais uma dessas ong's, ou movimentos que circulavam na orbita de uma entidade forte que era o Centro de Defesa da Vida  Herbert de Sousa - CDVHS. Havia um projeto, o Clube da Paz nas Escolas, onde de um lado ficava eu teorizando John Lennon, e do outro o Ctheysco,menos pirado articulando os Direitos Humanos Universais. As ong's trouxeram vários benefícios para a região, a rádio comunitária, a rede de desenvolvimento local integrada e sustentável -a DELIS, e o rock volta a ser autoral com o surgimento de duas outras bandas; O PESO DA COISA E A ARKANJOS. 



          A importância dos irmãos Ricardo e Rogério, ambos do Peso da Coisa, para a cena é imensurável. senão vejamos, foram eles quem abriram espaço para shows semanais de rock no Sol Nascer. Antes nós nunca tivemos condições de fazermos eventos semanais e pela rádio comunitária nossa voz, pelos programas manhã rock do DJ Francisco, surgia toda uma leva de novas bandas autorais. Nem todas eram do grande Bom Jardim, havíamos quebrado barreiras, vinha gente do Esperança, Zé Valter, Maracanaú, Jurema, Conjunto Ceará... Nós do MNV pensamos em catalogar essa turma, e chegamos a surpreendente marca de 60 bandas. Dái surge a Cunder - Cooperativa Underground. 


         

        Com a Cunder voltamos a ser punks, pelo menos na urgência. O lema era nos entregarmos em cooperativa para fazermos uma cena alternativa as equipes de som e ao forró eletrônico. Bem ali em 1999, nós já falávamos de Sócio economia solidária e sócio economia criativa. O lance era promover a identificação do bairro, sem o estereótipo forçado da mídia, afinal as gangues sumiram, a geração 2000, se ligava nas coisas da cultura pop que antes só nós rockeiros daqui sacávamos. Era uma turma digital, novos horizontes, e nos anos 2000 institucionalizamos a nossa cara como a cara da força e da coragem não violenta e covarde que representa a juventude do Grande Bom Jardim. Marginais sim, mas marginais alados. 


           
         
AQUI ESTOU EU E O CICERO ALEXANDRE EM FRENTE AO FINADO HEY HO ROCK BAR.
MAGRO DICUNFORÇA ERAMOS DOIS PERDIDOS NUMA PRAIA ESCURA!


VALEU!

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